Visitando o passado

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Visitando o passado
Com a leitura do nosso jornal Diário do dia 17/05/2021 – Dia do Aniversário de 163 anos da cidade de Santa Maria da Boca do Monte – dei-me conta que vivencio esta cidade há mais de metade de sua existência. Nos 90 anos que habito este rincão, tenho assistido ao evoluir da cidade e participado, como cidadão, de seu desenvolvimento. Quando em janeiro de 1957, recém-formado, me estabeleci com consultório médico, recebi a inscrição nº 73 no posto da Secretaria Estadual de Saúde que funcionava na Rua do Acampamento no edifício da Sociedade Italiana que, em decorrência da 2ª Guerra, havia sido desapropriado pelo Estado. Na ocasião, esse era o número de médicos que clinicavam na cidade. Logo esse número aumentou exponencialmente com o progredir do Curso Médico, que era extensão da Universidade do Rio Grande do Sul. Em 02/01/1959, fui admitido como instrutor de ensino por portaria assinada pelo reitor Eliseu Paglioli. Então, ministrei aulas de doenças infecciosas e parasitárias para os formandos da primeira turma médica de Santa Maria. Nossa universidade foi criada em 1960.

Desde que comecei minha vida profissional, tive a preocupação de participar das decisões político-administrativas da cidade. Isso me levou a filiação ao antigo PTB e eleição para vereador no pleito de 15/11/1959. Nesse ano, elegeu-se prefeito, o Dr. Miguel Sevi Viero, pelo PSD. Ambos partidos liderados por Getúlio Vargas nas suas origens. Dessa maneira, fui vereador de oposição durante quatro anos e com minha reeleição em 15/11/1963, passei a ser líder na Câmara de Vereadores do prefeito Paulo Lauda – Adelmo Genro. Com o movimento militar de março de 64, voltei a ser oposição quando da cassação dos mandatos de Lauda-Adelmo e a nomeação do Dr. Francisco Alvares Pereira pelo governo militar que se instalava. Fui vereador até 10/11/66, quando também fui cassado, perdendo o mandato e sendo expurgado da universidade e do cargo de médico do antigo Ipase.

Lembro que, durante meus seis anos de vereador da oposição, nossa câmara sempre funcionou como parte do governo da cidade. Exercíamos a fiscalização e a crítica, mas colaborávamos em tudo que fosse do interesse da cidade. Fico estarrecido quando vejo alguns vereadores e deputados promovendo ações de obstrução aos governos e até incentivando ações de desestabilização e destituição de governos eleitos. Felizmente, vejo nossa câmara de vereadores constituída de homens e mulheres capacitados, representativos da cidadania e com ânimo propositivo de ajudar a cidade. São novos tempos!

Santa Maria emancipou-se de Cachoeira do Sul em 17/05/1858, em pleno Segundo Reinado, na antevéspera da maior guerra que o Brasil já enfrentou. Logo após o término da Guerra do Paraguay, meu bisavô Hilário Antônio Rolim chegou na cidade, vindo de Porto Alegre, por volta de 1870. Aqui, instalou uma oficina de funilaria que atuou na fabricação dos primeiros lampiões que iluminaram a cidade. Também participou da Exposição Brasileiro-Alemã de Artes Plásticas de 1881, levando a Porto Alegre um “dossel nupcial” elaborado em folhas de flandres. Aqui, constituiu família casando com Elizabeth Holzbach, irmã da esposa de Guilherme Fischer, proprietário da “Farmácia Fischer” na esquina da Acampamento com a Dr. Bozano, onde hoje está a Caixa Econômica Federal (antigo Banco do Comércio). Em 1877, nasce o primeiro filho do casal: João Guilherme Rolim, meu avô. Devido à morte prematura de sua mãe, o menino João viajou a Porto Alegre para ser criado pelos avós retornando nos anos finais do século 19, com a profissão de artífice em móveis de vime. Estabeleceu-se na terceira quadra da Rua do Comércio, onde prosperou e veio a adquirir uma gleba de 14 hectares na periferia da cidade que hoje está delimitada pela Rua Tamanday (que ele abriu com o nome de Travessa Cassel) e a Rua Gaspar Martins. Casou-se em 1900 com Bertha Culmann, filha de imigrantes, sendo o primeiro casamento realizado em Santa Maria pelo ritual da Igreja Anglicana.

Até aqui, a memória que está em meu DNA de santa-mariense orgulhoso de sua terra.

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